Fotografia
A fotografia
do filme, por se tratar de uma produção de guerrilha disposta a concordar com
algumas regras do Dogma 95, quase não
se utilizou luz artificial. Em decorrência disso, alguns planos ficaram mais
escuros que outros na mesma sequência. Para corrigir e amenizar problemas técnicos
buscou-se transformar as falhas de iluminação em recurso de linguagem
narrativa.
O objetivo do fotógrafo é criar um conceito geral para as imagens do filme e prever soluções para os problemas técnicos. A isso se chama decupagem técnica ou análise técnica, que é parecida com a decupagem do diretor, só que em vez de envolver pessoas e ações envolve câmeras, lentes, filtros, equipamentos de iluminação e a posição desses equipamentos. Por outro lado, para criar o conceito da fotografia do filme, o fotógrafo vai lidar com dados abstratos e artísticos e resolver como será a imagem do filme: se dura ou delicada, contrastada ou suave, realista ou estilizada, etc. ou tal. (Edgar Moura).
Para facilitar e acelerar a produção, algumas dessas doutrinas foram usadas no filme. Segue abaixo uma lista com as regras que foram referencial teórico para estética do filme.
1) As filmagens devem necessariamente ocorrer em locações. Cenários artificiais e objetos de cena não devem ser criados. Se um objeto de cena for necessário para a história, a locação deve ser escolhida onde os objetos de cena se encontram.
3) A câmera deve estar sempre na mão. É permitida a cena estática obtida com câmera na mão (as filmagens não devem acontecer onde a câmera está posicionada, mas sim a câmera deve ir aonde a cena está acontecendo).
4) O filme deve ser em cores. Não utilizar luz artificial. Em caso de pouca luz para exposição da imagem no negativo, a cena deve ser cortada ou apenas uma pequena lâmpada pode ser acoplada à câmera.
O manifesto dinamarquês pode ser dividido em três partes, em sua primeira parte, define com clareza um alvo de críticas: a nouvelle vague e o cinema de autor. O texto proclama uma ruptura com o cinema moderno que emanou desse movimento, apontando que “o conceito de autor era um romantismo burguês desde o começo”, e propõe, como solução, a produção de um cinema coletivo que renegue a autoria, colocando como base para tal mudança o surgimento das tecnologias digitais que, segundo o manifesto, levarão à “democratização definitiva do cinema” (Hirata Filho) Em 1998, quando a provocação materializou-se em filme, nos lançamentos de Festa de Família e Os Idiotas Lars von Trier, a proposta estética do Dogma 95 provocou novo choque. Na tela, viam-se imagens feitas em vídeos por meio de câmeras semi-amadoras, tremidas e granuladas, articuladas por uma montagem repleta de jump cuts, em um desapego de sua “estetização” como há muito não se via no cinema. Ambos os filmes, aparentemente, possuíam um “quê” de amadorismo e de despojamento radical surpreendentes no fazer cinematográfico. Somando-se a isso, havia o fato de terem sido realizados em vídeo com câmeras de formato MiniDV, extremamente baratas. Os filmes do Dogma 95 apresentavam um novo horizonte para as produções de baixo orçamento em todo o mundo. (HIRATA FILHO)
A câmera na mão com imagens trêmulas e amadorísticas dá maior realismo às cenas, o espectador se sente um observador presente, que atua olhando e voltando o olhar para perseguir a ação, e não o contrário. Filmes como Dançando no Escuro e Dogville de Lars von Trier são exemplos que usam essa câmera na mão que traz naturalismo a fotografia.
A estética do filme busca dialogar com algumas doutrinas do Dogma 95. Sendo assim, todas as externas foram filmadas de dia. A única externa noturna é a décima quarta cena, onde os adolescentes Carlos e Bianca, depois de expulsos do PUB, pegam carona com dois adultos desconhecidos, Robson e Jéssica. Essa cena é intencionalmente escura e não se preocupa com a baixa qualidade da imagem, até porque esse recurso é usado para enfatizar a tensão: são dois menores de idade pegando carona com adultos em parte mal intencionados. A trilha sonora dessa cena, para acompanhar a iluminação insuficiente, também será tão sombria quanto a imagem.
As cenas que se passam na casa do Fábio assim como no prédio onde Fábio e Andrea moram, são iluminadas com luzes ambientes. As cenas internas diurnas, foram filmadas por volta das três horas da tarde. As internas noturnas, foram gravadas por volta das sete ou oito horas da noite. Nas cenas que se passam nas escadas e corredores do prédio, os sensores de luz acendem conforme o movimento, isso dificultou a continuidade na hora da edição, mas por outro lado, ajudou no ritmo cômico do diálogo da quarta cena, onde ocorre o encontro de Fábio e Andrea, eles se reconhecem e apontam um no outro, lembranças desagradáveis. As luzes se acendem e apagam de acordo com o tempo e impacto que cada fala de cada um tem no outro personagem. Quando Fábio comenta que Andrea engordou, a luz se apaga ao mesmo tempo que Andrea desfaz o sorriso. A luz volta a se acender quando Andrea revida, lembrando que Fábio catava pontas de cigarro no chão da clínica, a luz volta a se apagar ao mesmo tempo que Fábio abaixa a cabeça, e comenta que aquela lembrança é deprimente.
A cena que se passa no PUB foi a única com iluminação artificial, utilizou-se dois kinos, um para luz de ataque e outro para rebatimento das sombras. Como a locação era muito escura e a cena seria ocupada por grande número de figurantes, foi necessário recorrer a esse auxílio na iluminação. A cena 11, quando Andrea se imagina fazendo sexo com Fábio, alguns planos foram iluminados com velas e lanternas, na intenção de projetar sombras e com o movimento destas compor a fotografia da cena.
O objetivo do fotógrafo é criar um conceito geral para as imagens do filme e prever soluções para os problemas técnicos. A isso se chama decupagem técnica ou análise técnica, que é parecida com a decupagem do diretor, só que em vez de envolver pessoas e ações envolve câmeras, lentes, filtros, equipamentos de iluminação e a posição desses equipamentos. Por outro lado, para criar o conceito da fotografia do filme, o fotógrafo vai lidar com dados abstratos e artísticos e resolver como será a imagem do filme: se dura ou delicada, contrastada ou suave, realista ou estilizada, etc. ou tal. (Edgar Moura).
Para facilitar e acelerar a produção, algumas dessas doutrinas foram usadas no filme. Segue abaixo uma lista com as regras que foram referencial teórico para estética do filme.
1) As filmagens devem necessariamente ocorrer em locações. Cenários artificiais e objetos de cena não devem ser criados. Se um objeto de cena for necessário para a história, a locação deve ser escolhida onde os objetos de cena se encontram.
3) A câmera deve estar sempre na mão. É permitida a cena estática obtida com câmera na mão (as filmagens não devem acontecer onde a câmera está posicionada, mas sim a câmera deve ir aonde a cena está acontecendo).
4) O filme deve ser em cores. Não utilizar luz artificial. Em caso de pouca luz para exposição da imagem no negativo, a cena deve ser cortada ou apenas uma pequena lâmpada pode ser acoplada à câmera.
O manifesto dinamarquês pode ser dividido em três partes, em sua primeira parte, define com clareza um alvo de críticas: a nouvelle vague e o cinema de autor. O texto proclama uma ruptura com o cinema moderno que emanou desse movimento, apontando que “o conceito de autor era um romantismo burguês desde o começo”, e propõe, como solução, a produção de um cinema coletivo que renegue a autoria, colocando como base para tal mudança o surgimento das tecnologias digitais que, segundo o manifesto, levarão à “democratização definitiva do cinema” (Hirata Filho) Em 1998, quando a provocação materializou-se em filme, nos lançamentos de Festa de Família e Os Idiotas Lars von Trier, a proposta estética do Dogma 95 provocou novo choque. Na tela, viam-se imagens feitas em vídeos por meio de câmeras semi-amadoras, tremidas e granuladas, articuladas por uma montagem repleta de jump cuts, em um desapego de sua “estetização” como há muito não se via no cinema. Ambos os filmes, aparentemente, possuíam um “quê” de amadorismo e de despojamento radical surpreendentes no fazer cinematográfico. Somando-se a isso, havia o fato de terem sido realizados em vídeo com câmeras de formato MiniDV, extremamente baratas. Os filmes do Dogma 95 apresentavam um novo horizonte para as produções de baixo orçamento em todo o mundo. (HIRATA FILHO)
A câmera na mão com imagens trêmulas e amadorísticas dá maior realismo às cenas, o espectador se sente um observador presente, que atua olhando e voltando o olhar para perseguir a ação, e não o contrário. Filmes como Dançando no Escuro e Dogville de Lars von Trier são exemplos que usam essa câmera na mão que traz naturalismo a fotografia.
A estética do filme busca dialogar com algumas doutrinas do Dogma 95. Sendo assim, todas as externas foram filmadas de dia. A única externa noturna é a décima quarta cena, onde os adolescentes Carlos e Bianca, depois de expulsos do PUB, pegam carona com dois adultos desconhecidos, Robson e Jéssica. Essa cena é intencionalmente escura e não se preocupa com a baixa qualidade da imagem, até porque esse recurso é usado para enfatizar a tensão: são dois menores de idade pegando carona com adultos em parte mal intencionados. A trilha sonora dessa cena, para acompanhar a iluminação insuficiente, também será tão sombria quanto a imagem.
As cenas que se passam na casa do Fábio assim como no prédio onde Fábio e Andrea moram, são iluminadas com luzes ambientes. As cenas internas diurnas, foram filmadas por volta das três horas da tarde. As internas noturnas, foram gravadas por volta das sete ou oito horas da noite. Nas cenas que se passam nas escadas e corredores do prédio, os sensores de luz acendem conforme o movimento, isso dificultou a continuidade na hora da edição, mas por outro lado, ajudou no ritmo cômico do diálogo da quarta cena, onde ocorre o encontro de Fábio e Andrea, eles se reconhecem e apontam um no outro, lembranças desagradáveis. As luzes se acendem e apagam de acordo com o tempo e impacto que cada fala de cada um tem no outro personagem. Quando Fábio comenta que Andrea engordou, a luz se apaga ao mesmo tempo que Andrea desfaz o sorriso. A luz volta a se acender quando Andrea revida, lembrando que Fábio catava pontas de cigarro no chão da clínica, a luz volta a se apagar ao mesmo tempo que Fábio abaixa a cabeça, e comenta que aquela lembrança é deprimente.
A cena que se passa no PUB foi a única com iluminação artificial, utilizou-se dois kinos, um para luz de ataque e outro para rebatimento das sombras. Como a locação era muito escura e a cena seria ocupada por grande número de figurantes, foi necessário recorrer a esse auxílio na iluminação. A cena 11, quando Andrea se imagina fazendo sexo com Fábio, alguns planos foram iluminados com velas e lanternas, na intenção de projetar sombras e com o movimento destas compor a fotografia da cena.