Metodologia
Processo
Criativo, Pesquisa e Influências Estéticas
Através da pesquisa bibliográfica e filmográfica foi possível encontrar referências estéticas e estruturais para a construção da narrativa, temática, enredo, gênero e criação dos personagens. Nesta parte do memorial é analisado todo o processo criativo, partindo da criação do roteiro até a finalização do produto.
Durante a pesquisa para concepção da estória, foram analisados diversos casos do crime “boa noite cinderela” em notícias de jornais na internet, para buscar maior veracidade na construção da ação dos personagens. Dois tipos de caso são bem comuns quando se trata do golpe boa noite cinderela. No primeiro, homens dopam mulheres para abuso sexual. No segundo, michês e prostitutas dopam os clientes para roubá-los. Como a temática do estupro e a vitimização das mulheres é algo muito frequente e ao mesmo tempo explorado de forma acrítica e descuidada, (e isso, muitas vezes ajuda a banalizar ou até influenciar criminosos em potencial) ficou resolvido que todas as vítimas do filme seriam personagens masculinas, até para deixar a temática mais leve, pois se trata de uma comédia-suspense.
Através de pesquisa pela internet, foram analisados alguns casos de pacientes viciados em remédios como rivotril, este em particular, é o ansiolítico mais consumido no Brasil, principalmente entre as mulheres, com maior índice de dependência segundo pesquisa realizada com 500.000 profissionais da ePharma, empresa que faz gestão de planos de saúde. Ainda de forma indireta, sutil e irônica, a narrativa faz uma crítica à falta de ética e responsabilidade social, tanto da indústria farmacêutica, quanto de profissionais de saúde que mantendo vínculos com essa indústria, receitam remédios que causam dependência maior e efeitos colaterais mais fortes do que as drogas ilícitas citadas no filme. Casos empíricos de pacientes internados em clínicas de recuperação para dependência química, depressão e outras doenças psiquiátricas, foram analisados durante as etapas de pesquisa, através de entrevistas. Observou-se que grande parte dessas pessoas, buscando tratar a depressão, dependência química, etc, se tornaram dependentes de anti-depressivos, ansiolíticos, especificamente o Rivotril da Roche. O nome do remédio era citado no diálogo da cena 4 nos antigos tratamentos do roteiro, foi removido da versão final para não fazer propaganda nem referência aos fabricantes.
Os pacientes além de dependência criam resistência à substância, é o caso da personagem Andrea, que usa os remédios receitados pelo médico psiquiatra para manter a dependência embora não consiga dormir e sinta depressão, oscilação de humor, o psiquiatra não tem interesse em tratar Andrea, pois lucra com sua dependência, assim como traficantes de drogas ilícitas, busca manter o cliente/paciente viciado. Com a proposta de Fábio, em usar os remédios para aplicar boa noite cinderela em pessoas aleatórias, o problema ganha uma nova dimensão, dando margem para que o medicamento seja usado como uma arma para realização de furtos.
Embora contenha cenas com uso de drogas, contravenções e crimes, a forma de abordagem se preocupa em não fazer apologia a essas práticas. As ações que exibem crimes e uso de drogas são retratadas de forma satírica e crítica, embora sem moralismo. A ironia da narrativa defende que o abuso de entorpecentes para alterar a consciência, impede o alcance de objetivos que precisam de sanidade para serem realizados. Fábio passa o filme inteiro juntando dinheiro para viajar, mas no final, ao dar uma festa de despedida, se entorpece tanto que além de ser envenenado por Robson, é roubado, acorrentado e acorda nessa situação, impossibilitado de atender o celular para avisar Dandara-Fernanda que não pode ir ao encontro.
A concepção do roteiro foi se construindo aos poucos a partir de diversos tratamentos e modificações. Primeiro criou-se um ambiente, época e perfil dos personagens principais. Depois decidiu-se o gênero, que mudou de suspense policial para um híbrido de comédia e suspense.
Sempre aberto a críticas e reformulações, antes de chegar a versão final, o roteiro passou por vários tratamentos e mudanças. Inicialmente intitulado “F de Faca”, a estória buscava seguir a estrutura dos problemas de Lógica Formal do tipo “encontre o culpado”. Exemplo retirado do livro Raciocínio Lógico Enrique Rocha:
1.(ESAF-AFC-2002) Cinco aldeões foram trazidos à presença de um velho rei, acusados de haver roubado laranjas do pomar real. Abelim, o primeiro a falar, falou tão baixo que o rei – que era um pouco surdo – não ouviu o que ele disse. Os outros quatro acusados disseram:
- Bebelim: “Cebelim é inocente”
-Cebelim: “Dedelin é inocente”
-Dedelim: “Ebelim é culpado”
-Ebelim: “Abelim é culpado”.
O mago Merlim, que vira o roubo das laranjas e ouvira as declarações dos cinco acusados, disse ao rei: “ Majestade, apenas um dos cinco acusados é culpado, e ele disse a verdade; os outros quatro são inocentes e todos os quatro mentiram”. O velho rei, embora um pouco surdo, muito sábio, logo concluiu que o culpado era: (ENRIQUE ROCHA)
Com a criação de personagens excêntricos (André o nerd obcecado em criminogênese e sua vizinha Das Dores ninfomaníaca, esquizofrênica e drogadicta), a trama envolvia crime e mistério, se propondo a fazer o gênero policial /detetive. Nas primeiras versões o personagem principal, se chamava André e era estudante de direito, interessado na área criminal. Por frequentar demasiadamente a casa de sua vizinha Das Dores, passa a ser suspeito do assassinato dela.
Já na segunda versão, André era degolado por uma faca no final e o assassino não era revelado, cabendo ao espectador, através da análise lógica das pistas, descobrir quem foi. Por esse motivo, os personagens coadjuvantes têm as iniciais de seus nomes de acordo com a sequência das primeiras letras do alfabeto, “Andrea, Bianca, Carlos, Diogo, Fábio” pois na maioria deste tipo de problema lógico, os personagens aparecem com nomes a serem assimilados às primeiras letras do alfabeto em ordem sucessiva. Isso se manteve embora o recurso da faca tenha sido aos poucos removido da história, até que a estrutura de narrativa policial de detetive foi sendo desconstruída, dando lugar a um gênero híbrido de comédia e suspense, sem violência explícita.
Em anexo estão os tratamentos anteriores intitulados “F de Faca” e a versão definitiva do roteiro literário do filme “Amargo da Língua”.
Através da pesquisa bibliográfica e filmográfica foi possível encontrar referências estéticas e estruturais para a construção da narrativa, temática, enredo, gênero e criação dos personagens. Nesta parte do memorial é analisado todo o processo criativo, partindo da criação do roteiro até a finalização do produto.
Durante a pesquisa para concepção da estória, foram analisados diversos casos do crime “boa noite cinderela” em notícias de jornais na internet, para buscar maior veracidade na construção da ação dos personagens. Dois tipos de caso são bem comuns quando se trata do golpe boa noite cinderela. No primeiro, homens dopam mulheres para abuso sexual. No segundo, michês e prostitutas dopam os clientes para roubá-los. Como a temática do estupro e a vitimização das mulheres é algo muito frequente e ao mesmo tempo explorado de forma acrítica e descuidada, (e isso, muitas vezes ajuda a banalizar ou até influenciar criminosos em potencial) ficou resolvido que todas as vítimas do filme seriam personagens masculinas, até para deixar a temática mais leve, pois se trata de uma comédia-suspense.
Através de pesquisa pela internet, foram analisados alguns casos de pacientes viciados em remédios como rivotril, este em particular, é o ansiolítico mais consumido no Brasil, principalmente entre as mulheres, com maior índice de dependência segundo pesquisa realizada com 500.000 profissionais da ePharma, empresa que faz gestão de planos de saúde. Ainda de forma indireta, sutil e irônica, a narrativa faz uma crítica à falta de ética e responsabilidade social, tanto da indústria farmacêutica, quanto de profissionais de saúde que mantendo vínculos com essa indústria, receitam remédios que causam dependência maior e efeitos colaterais mais fortes do que as drogas ilícitas citadas no filme. Casos empíricos de pacientes internados em clínicas de recuperação para dependência química, depressão e outras doenças psiquiátricas, foram analisados durante as etapas de pesquisa, através de entrevistas. Observou-se que grande parte dessas pessoas, buscando tratar a depressão, dependência química, etc, se tornaram dependentes de anti-depressivos, ansiolíticos, especificamente o Rivotril da Roche. O nome do remédio era citado no diálogo da cena 4 nos antigos tratamentos do roteiro, foi removido da versão final para não fazer propaganda nem referência aos fabricantes.
Os pacientes além de dependência criam resistência à substância, é o caso da personagem Andrea, que usa os remédios receitados pelo médico psiquiatra para manter a dependência embora não consiga dormir e sinta depressão, oscilação de humor, o psiquiatra não tem interesse em tratar Andrea, pois lucra com sua dependência, assim como traficantes de drogas ilícitas, busca manter o cliente/paciente viciado. Com a proposta de Fábio, em usar os remédios para aplicar boa noite cinderela em pessoas aleatórias, o problema ganha uma nova dimensão, dando margem para que o medicamento seja usado como uma arma para realização de furtos.
Embora contenha cenas com uso de drogas, contravenções e crimes, a forma de abordagem se preocupa em não fazer apologia a essas práticas. As ações que exibem crimes e uso de drogas são retratadas de forma satírica e crítica, embora sem moralismo. A ironia da narrativa defende que o abuso de entorpecentes para alterar a consciência, impede o alcance de objetivos que precisam de sanidade para serem realizados. Fábio passa o filme inteiro juntando dinheiro para viajar, mas no final, ao dar uma festa de despedida, se entorpece tanto que além de ser envenenado por Robson, é roubado, acorrentado e acorda nessa situação, impossibilitado de atender o celular para avisar Dandara-Fernanda que não pode ir ao encontro.
A concepção do roteiro foi se construindo aos poucos a partir de diversos tratamentos e modificações. Primeiro criou-se um ambiente, época e perfil dos personagens principais. Depois decidiu-se o gênero, que mudou de suspense policial para um híbrido de comédia e suspense.
Sempre aberto a críticas e reformulações, antes de chegar a versão final, o roteiro passou por vários tratamentos e mudanças. Inicialmente intitulado “F de Faca”, a estória buscava seguir a estrutura dos problemas de Lógica Formal do tipo “encontre o culpado”. Exemplo retirado do livro Raciocínio Lógico Enrique Rocha:
1.(ESAF-AFC-2002) Cinco aldeões foram trazidos à presença de um velho rei, acusados de haver roubado laranjas do pomar real. Abelim, o primeiro a falar, falou tão baixo que o rei – que era um pouco surdo – não ouviu o que ele disse. Os outros quatro acusados disseram:
- Bebelim: “Cebelim é inocente”
-Cebelim: “Dedelin é inocente”
-Dedelim: “Ebelim é culpado”
-Ebelim: “Abelim é culpado”.
O mago Merlim, que vira o roubo das laranjas e ouvira as declarações dos cinco acusados, disse ao rei: “ Majestade, apenas um dos cinco acusados é culpado, e ele disse a verdade; os outros quatro são inocentes e todos os quatro mentiram”. O velho rei, embora um pouco surdo, muito sábio, logo concluiu que o culpado era: (ENRIQUE ROCHA)
Com a criação de personagens excêntricos (André o nerd obcecado em criminogênese e sua vizinha Das Dores ninfomaníaca, esquizofrênica e drogadicta), a trama envolvia crime e mistério, se propondo a fazer o gênero policial /detetive. Nas primeiras versões o personagem principal, se chamava André e era estudante de direito, interessado na área criminal. Por frequentar demasiadamente a casa de sua vizinha Das Dores, passa a ser suspeito do assassinato dela.
Já na segunda versão, André era degolado por uma faca no final e o assassino não era revelado, cabendo ao espectador, através da análise lógica das pistas, descobrir quem foi. Por esse motivo, os personagens coadjuvantes têm as iniciais de seus nomes de acordo com a sequência das primeiras letras do alfabeto, “Andrea, Bianca, Carlos, Diogo, Fábio” pois na maioria deste tipo de problema lógico, os personagens aparecem com nomes a serem assimilados às primeiras letras do alfabeto em ordem sucessiva. Isso se manteve embora o recurso da faca tenha sido aos poucos removido da história, até que a estrutura de narrativa policial de detetive foi sendo desconstruída, dando lugar a um gênero híbrido de comédia e suspense, sem violência explícita.
Em anexo estão os tratamentos anteriores intitulados “F de Faca” e a versão definitiva do roteiro literário do filme “Amargo da Língua”.